Meu nome é
Fernanda, moro em Manhattan, há poucas semanas conheci um homem, um príncipe na
realidade, nos víamos todos os dias em um parque para compartilhar nossos
gostos que temos em comum, o amor pela natureza. Descobri várias coisas sobre ele, uma delas é que tudo
o que conhecera era as trevas, a outra é que ele tinha o sorriso mais iluminado
que já vi. Com o passar dos dias pude perceber que ficava solitária ao redor
das pessoas quando ele não estava junto a mim, ele se sentia assim também até
que um acidente aconteceu e nossos lábios se tocaram, a explosão de sentimentos
fez com que ele se declarasse para mim, atualmente estamos namorando e tudo
está perfeito, mas sempre podemos contas com o nosso cupido para melhorar.
Um dia antes
de vê-lo no parque, eu estava caminhando em uma rua solitária, perdida nas
sombras, o silêncio era profundo e tudo o que se ouvia era profundo, tudo o que
se ouvia era minha própria respiração e os meus batimentos cardíacos, eu estava
indo para casa e criando coragem em me declarar, antes que ele fizesse isso. Ao
observar uma árvore seca, sem nenhuma folha, nenhuma luz sobre a mesma, comecei
a imaginar como poderia ter sido triste a infância e adolescência de Walter,
não podia correr, pois não sabia por onde andava, ele mesmo havia me dito uma vez
que alguns amigos que tinha não o respeitavam muito, nunca teve uma namorada,
as garotas gostavam de iludi-lo, não acreditava em amor, então resolvi dar uma
prova de meu amor para ele.
Hoje, quando
cheguei ao parque, pude vê-lo sentado me esperando, pude sentir que meu coração
bate por amor:
- Hey minha
querida – disse o cego apaixonado
- Você e
essa mania de me reconhecer pelo perfume. – Cumprimentei-o com um beijo.
- O seu
perfume, cheiro de tulipas com um leve aroma de pêssego. Correto?
- Exato você
sempre me surpreende.
- Recebi mais
notícias sobre o meu transplante de córnea.
- O que lhe
disseram?
- A cirurgia
será em 3 dias, amanhã já irei ficar no hospital.
- Estou
torcendo para que de tudo certo.
- Sempre
quis ver o mundo, mas agora você é o meu mundo, ver você é o que importa.
Dei um beijo
nele e pude notar que contos de fadas são reais, e que ele era meu príncipe. Acompanhei-o
até sua casa, disse que tudo iria correr bem, e eu estaria no hospital para
vê-lo, mas não podia ir com ele, pois tinha que trabalhar, ele entendeu. Despedi-me
e fui para minha casa, sabia que em 3 dias tudo iria mudar, mas não só para
Walter, mas para mim mesma.
No outro dia
recebia um telefonema do hospital para a confirmação de um assunto que fui
tratar, quando disse que estava confirmado eu sabia que não havia mais volta e
que tudo, tudo iria mudar em minha vida. Um arrepio percorreu meu corpo todo,
cada segundo que passava a mudança estava mais próxima, não tinha vontade de
voltar atrás e nem vontade de seguir enfrente, quando me dei conta, havia
passado duas horas, duas horas de pura angustia e ansiedade, mas eu tinha que
continuar o que comecei, não dá para esperar que algo aconteça de ficarmos
parados olhando pela janela e tentando encontrar uma saída. Arrumei minhas
coisas e fui para o hospital:
- Você está ciente
do que vai fazer? – Disse o doutor – Não da para voltar atrás depois.
- Sim, estou
consciente e quero fazer isso, sem arrependimentos – E disse eu morrendo de
medo do futuro.
Ao acordar,
eu vi que tudo mudaria, não apenas porque eu sabia o que havia acontecido, mas
porque eu sentia e via um novo mundo renascendo:
- Bom dia
senhorita, como está se sentindo? – Disse um homem vestido de branco, não
consegui saber se era médico ou enfermeiro, minha visão estava embaçada.
- Não sei
muito bem, não tenho uma visão muito boa nesse momento e estou com sono.
- Você está anestesiada,
isso é normal, durma mais um pouco, irá melhorar.
- Mas cadê o
Walter, ele está bem? O transplante deu certo?
- Sim, mas
ele ainda está dormindo.
- Preciso
vê-lo
- Isso não é
possível agora
- Por que
não?
- Ele esta
em observação e está sendo anestesiado, não pode ser acordado.
- Eu não vou
acorda-lo, só quero vê-lo – Deixo escapar um bocejo.
- Você está
morrendo de sono, precisa dormir.
Ele aplica
uma seringa com algum líquido em meu soro, percebo que é algum tipo de
sonífero, pois me sinto pesada, mal consigo me manter ligada aos
acontecimentos:
- Eu, eu
não... eu não posso... não posso dorm...- Sem querer eu acabo dormindo.
Acordar furiosa
é uma coisa que nunca tive dificuldade em fazer, principalmente quando me negam
algo que poderia ser permitido, nesse caso não foi diferente, pois eu queria
ter visto o Walter, e não havia motivos para isso ser negado pra mim.
Olhei ao
redor e vi que não havia ninguém no quarto, rapidamente retirei tudo o que
estava em mim, todos os fios e agulhas que eu nem sabia para que servia, peguei
uma curativo e coloquei em um furo de uma agulha, pois estava sangrando.
Saí do meu
quarto em busca de Walter, teria que tomar cuidado para não ser vista por
ninguém, havia portas e mais portas e corria abrindo uma por uma, não
encontrava quem eu queria, certa angustia percorria meu corpo quando por acaso,
bati meu braço em uma mesinha de vidro quebrando-a, rapidamente com medo de
alguém me achar, saí correndo em pânico, entrei em um quartinho que havia ali e
graças a Deus pude ver um homem na frente de um espelho, reconheceria aquele
sorriso brilhante em qualquer lugar do mundo:
- Walter
- Fernando,
o que aconteceu com você?
- Você está
enxergando
O abracei
com força, senti lágrimas dele passando pelo meu rosto:
- Estou tão
feliz por você
- O que
aconteceu com o seu olho esquerdo? Ele está vedado
- Quem você
acha que lhe doou a córnea?!
Ele me
beijou:
- Mas,
porque fez isso? – Perguntou para mim enquanto dezenas de lágrimas caiam
- Para você
ver como seu sorriso é iluminado e para ver como você é lindo.
- Lindo foi
ver que minha noiva é mais linda do que o mundo.
- Como assim
noiva? – Perguntei assustada.
- Casa
comigo?
Antes que eu
pudesse responder fui anestesiada e levada, com o pedido fiquei sem reação, os
enfermeiros me levaram para meu quarto e percebi que fui encontrada porque
deixei sinais de sangue quando bati meu braço naquela droga de mesinha. Apenas
gritei:
- Caso sim.
Alto o
bastante para que Walter ouvisse.