segunda-feira, 22 de abril de 2013

Saindo Das Trevas


Meu nome é Fernanda, moro em Manhattan, há poucas semanas conheci um homem, um príncipe na realidade, nos víamos todos os dias em um parque para compartilhar nossos gostos que temos em comum, o amor pela natureza. Descobri  várias coisas sobre ele, uma delas é que tudo o que conhecera era as trevas, a outra é que ele tinha o sorriso mais iluminado que já vi. Com o passar dos dias pude perceber que ficava solitária ao redor das pessoas quando ele não estava junto a mim, ele se sentia assim também até que um acidente aconteceu e nossos lábios se tocaram, a explosão de sentimentos fez com que ele se declarasse para mim, atualmente estamos namorando e tudo está perfeito, mas sempre podemos contas com o nosso cupido para melhorar.
Um dia antes de vê-lo no parque, eu estava caminhando em uma rua solitária, perdida nas sombras, o silêncio era profundo e tudo o que se ouvia era profundo, tudo o que se ouvia era minha própria respiração e os meus batimentos cardíacos, eu estava indo para casa e criando coragem em me declarar, antes que ele fizesse isso. Ao observar uma árvore seca, sem nenhuma folha, nenhuma luz sobre a mesma, comecei a imaginar como poderia ter sido triste a infância e adolescência de Walter, não podia correr, pois não sabia por onde andava, ele mesmo havia me dito uma vez que alguns amigos que tinha não o respeitavam muito, nunca teve uma namorada, as garotas gostavam de iludi-lo, não acreditava em amor, então resolvi dar uma prova de meu amor para ele.
Hoje, quando cheguei ao parque, pude vê-lo sentado me esperando, pude sentir que meu coração bate por amor:
- Hey minha querida – disse o cego apaixonado
- Você e essa mania de me reconhecer pelo perfume. – Cumprimentei-o com um beijo.
- O seu perfume, cheiro de tulipas com um leve aroma de pêssego. Correto?
- Exato você sempre me surpreende.
- Recebi mais notícias sobre o meu transplante de córnea.
- O que lhe disseram?
- A cirurgia será em 3 dias, amanhã já irei ficar no hospital.
- Estou torcendo para que de tudo certo.
- Sempre quis ver o mundo, mas agora você é o meu mundo, ver você é o que importa.
Dei um beijo nele e pude notar que contos de fadas são reais, e que ele era meu príncipe. Acompanhei-o até sua casa, disse que tudo iria correr bem, e eu estaria no hospital para vê-lo, mas não podia ir com ele, pois tinha que trabalhar, ele entendeu. Despedi-me e fui para minha casa, sabia que em 3 dias tudo iria mudar, mas não só para Walter, mas para mim mesma.
No outro dia recebia um telefonema do hospital para a confirmação de um assunto que fui tratar, quando disse que estava confirmado eu sabia que não havia mais volta e que tudo, tudo iria mudar em minha vida. Um arrepio percorreu meu corpo todo, cada segundo que passava a mudança estava mais próxima, não tinha vontade de voltar atrás e nem vontade de seguir enfrente, quando me dei conta, havia passado duas horas, duas horas de pura angustia e ansiedade, mas eu tinha que continuar o que comecei, não dá para esperar que algo aconteça de ficarmos parados olhando pela janela e tentando encontrar uma saída. Arrumei minhas coisas e fui para o hospital:
- Você está ciente do que vai fazer? – Disse o doutor – Não da para voltar atrás depois.
- Sim, estou consciente e quero fazer isso, sem arrependimentos – E disse eu morrendo de medo do futuro.
Ao acordar, eu vi que tudo mudaria, não apenas porque eu sabia o que havia acontecido, mas porque eu sentia e via um novo mundo renascendo:
- Bom dia senhorita, como está se sentindo? – Disse um homem vestido de branco, não consegui saber se era médico ou enfermeiro, minha visão estava embaçada.
- Não sei muito bem, não tenho uma visão muito boa nesse momento e estou com sono.
- Você está anestesiada, isso é normal, durma mais um pouco, irá melhorar.
- Mas cadê o Walter, ele está bem? O transplante deu certo?
- Sim, mas ele ainda está dormindo.
- Preciso vê-lo
- Isso não é possível agora
- Por que não?
- Ele esta em observação e está sendo anestesiado, não pode ser acordado.
- Eu não vou acorda-lo, só quero vê-lo – Deixo escapar um bocejo.
- Você está morrendo de sono, precisa dormir.
Ele aplica uma seringa com algum líquido em meu soro, percebo que é algum tipo de sonífero, pois me sinto pesada, mal consigo me manter ligada aos acontecimentos:
- Eu, eu não... eu não posso... não posso dorm...- Sem querer eu acabo dormindo.
Acordar furiosa é uma coisa que nunca tive dificuldade em fazer, principalmente quando me negam algo que poderia ser permitido, nesse caso não foi diferente, pois eu queria ter visto o Walter, e não havia motivos para isso ser negado pra mim.
Olhei ao redor e vi que não havia ninguém no quarto, rapidamente retirei tudo o que estava em mim, todos os fios e agulhas que eu nem sabia para que servia, peguei uma curativo e coloquei em um furo de uma agulha, pois estava sangrando.
Saí do meu quarto em busca de Walter, teria que tomar cuidado para não ser vista por ninguém, havia portas e mais portas e corria abrindo uma por uma, não encontrava quem eu queria, certa angustia percorria meu corpo quando por acaso, bati meu braço em uma mesinha de vidro quebrando-a, rapidamente com medo de alguém me achar, saí correndo em pânico, entrei em um quartinho que havia ali e graças a Deus pude ver um homem na frente de um espelho, reconheceria aquele sorriso brilhante em qualquer lugar do mundo:
- Walter
- Fernando, o que aconteceu com você?
- Você está enxergando
O abracei com força, senti lágrimas dele passando pelo meu rosto:
- Estou tão feliz por você
- O que aconteceu com o seu olho esquerdo? Ele está vedado
- Quem você acha que lhe doou a córnea?!
Ele me beijou:
- Mas, porque fez isso? – Perguntou para mim enquanto dezenas de lágrimas caiam
- Para você ver como seu sorriso é iluminado e para ver como você é lindo.
- Lindo foi ver que minha noiva é mais linda do que o mundo.
- Como assim noiva? – Perguntei assustada.
- Casa comigo?
Antes que eu pudesse responder fui anestesiada e levada, com o pedido fiquei sem reação, os enfermeiros me levaram para meu quarto e percebi que fui encontrada porque deixei sinais de sangue quando bati meu braço naquela droga de mesinha. Apenas gritei:
- Caso sim.
Alto o bastante para que Walter ouvisse.




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